sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Minha mente nunca me imaginaria nesse estado, nem em mil hipóteses. Eu passei a não me importar, me sentir sozinha. Meu coração foi apertando por caras errados. Deixei de lado todos aqueles clichês adolescente, afinal nunca seria uma normal.

Tudo começou quando eu me apaixonei. Foi até bonito no começo, sabe aquela sensação borboletas no estômago? Foi ótimo as senti-las, até elas comerem me estômago. Um amor impossível para uma menina normal de uma escola nova, por um garoto popular e extrovertido.
Depois veio a pior parte, o terror. Cortes, muitos, por todo meu pulso. Por ele, por mim, pela vida, por todos e por tudo. Esqueci completamente o que era viver. Ninguém percebia enquanto minha desculpa era sempre frio e por debaixo daquelas blusas se via a morte.
Era a mesma coisa, repetidas e repetidas vezes: Eu odeio quem sou, odeio estar vivendo, odeio estar aqui e agora, odeio ser fraca e não cortar logo de vez minha vida, eu nunca fui suficiente, nunca vou ser.
Depois de alguns anos eu tinha perdido tudo, amigos, família, amores e todos os motivos possíveis (e impossíveis) para viver. A vida estava me deixando e eu não sabia com pedir ajuda. A verdade é que eu passei a sofrer em silêncio quando descobri que ninguém queria ouvir. Passei a fingir estar bem, a dar sorrisos enquanto minha alma gritava e chorava.
Eu não era magra como aquelas modelos, nunca iriam ser. Talvez eu continuasse com meu cargo de fofinha da turma, assim como o pessoal me chamava, um simples eufemismo que carregava o peso das palavras reais.
Fui decaindo em problemas comigo mesma. Não sabia como resolver, apenas queria ficar sozinha para poder resolve-los comigo. O que era impossível.
Quando descobriram que eu tinham algo, eu já não estava normal. Eu não me importava com nada, nem comigo mesmo.
Eu fui "tratada". Fiquei alguns meses sem me cortar, e isso bastou para todos. Eu estava bem como diziam eles, mas não estava. Estava cada dia pior. Eu menti para todos de novo.
Alguns meses pensando em suicídio bastaram para que eu ficasse pior. Talvez minha mãe não me quisesse por perto, eu sou um peso para ela. Sou uma inútil mesmo não vou fazer diferença.
E por isso estou aqui sentada perto da sua cama mãe, escrevendo isso, enquanto você dorme tranquilamente. Não fique triste, eu queria o melhor para todos. Siga em frente, te amo!


Dobrei o papel, engolindo as lágrimas esse seria meu ultimo adeus. Tentando fazer mínimo barulho o coloquei em cima da mesa da cozinha. Abri a a porta e subi até a cobertura. Bem perto da ponta do prédio, já podia sentir o vento batendo no meu rosto suavemente me levando para longe. Longe daquela realidade que eu não soube viver. Ta pensando que para por aqui? Não.

Sua mãe levanta com um pouco de sono e dá uma leve olhada na porta do seu quarto que se encontra aberta, o que você nunca fazia: deixa-la aberta. A cama esta devidamente arrumada, e nenhum sinal seu. Ela roda pela casa e então avista um papel dobrado em cima da mesa. O abre, e lê em um silêncio interminável. Fica um pouco chocada, ela está tentando assimilar se isso era realmente verdade. E ela decidiu que era, abre a porta e sai correndo sem se importar de fecha-la.
Gritos! Gritos e mais gritos pelo seu nome. A vizinhança pode ouvi-la desesperada. Ao sair pela porta da frente, ela avista seu corpo em uma situação horrível. Amassado, como se estivesse sido pisado por pés gigantes. Era de se esperar de uma queda de 14 andares.
Ela se ajoelha e começa a chorar. Diante do seu corpo, ela não consegue se mover, está em estado de choque.

No seu velório vemos poucos conhecidos, a maioria que estava lá eram curiosos queriam ver a menininha que se matou. Sua mãe nem conseguiu comparecer. Está inconsolável, seu pai nem se fala está a base de medicamentos. Apenas sua amiga estava lá de conhecida. Ela não parava de chorar nem por um segundo, e por motivo nenhum saía de perto do seu caixão. Após finalizarem o enterro, ela continuou lá perto do seu tumulo, por pelo menos umas duas horas.
Ela passou a se cortar e sua depressão aumentou, se iniciou no mundo das drogas. Parou de ir a escola e não conseguia dormir mais. Ela estava caindo como você. Cada vez mais. Não aguentou dois meses e foi te encontrar.

Tudo passou. Como um balde água fria. Sua mãe, nunca esqueceu, nunca parou de chorar. Mas tudo parece bem agora, só parece. Você morreu, mas levou a alegria de todos e a vida de uma amiga. Visitam seu tumulo todos os dias, eles não vão se esquecer. Eles sentem sua falta. Infelizmente, você morreu antes de esperar as mudanças acontecerem. Erro seu, sim! Mas erro deles também.